Em pindorama é Boreste… em Portugal Estibordo… que vem de Styrboord originalmente nórdico antigo e depois gaélico. Bombordo vem de bæcbord, antigo inglês com a palavra também de influência nórdica, que foi adaptada para outros idiomas latinos.
Assim,com esse dizeres acima, explicou brilhantemente o CLC Sidney Esteves, Mestre do CIAGA, para nós, seus eternos alunos.
Mesmo assim, o fato é que muitos se perguntam sobre como surgiram as terminologias Bombordo e Boreste na navegação e entre diversas versões, apenas duas possuem algum lastro histórico e documental, sendo o resto pura lenda, já que são versões que carecem de evidências históricas.
A versão mais conhecida por nós, brasileiros, é justamente a versão lusitana que, apesar de um tanto quanto romântica, tem lá sua lógica.
Encontrar um caminho marítimo para as Índias na época da Grandes Navegações (séculos XV a XVII) era a atividade principal dos países da Península Ibérica, pois as especiarias, como canela, gengibre, cravo e açafrão, que eram a mercadoria de grande valor na época principalmente por permitirem a conservação de muitos alimentos perecíveis, sendo quase que uma moeda internacional, tinham como grande centro de distribuição a cidade de Constantinopla, capital do Império Otomano, e considerada na época o “centro do mundo”, já que era um local com localização estratégica e de transição entre as civilizações ocidental e oriental.
Porém, por diversos acordos políticos, somente comerciantes de Veneza e Gênova, da Itália, tinham a autorização para distribuir estas mercadorias na Europa, o que encarecia demais os produtos e não garantia uma entrega segura nos demais países, pois tudo podia acontecer no caminho.

Assim, para não ficarem nas mãos dos Otomanos, que haviam conquistado Constantinopla em 1453, reduzindo drasticamente o volume comercializado com os mercadores de Veneza e Gênova, desde então, os países ibéricos, principalmente Portugal e Espanha, começaram a empreender grandes esforços na expansão ultramarina para que se fosse ampliado o mundo até então conhecido, sendo que um dos grandes objetivos era achar um caminho marítimo para as Índias.
Portugal optou pela rota das Índias, como era chamado o Oriente naquela época, pois viu uma oportunidade única de conseguir dominar o comércio de especiarias na Europa. Já a Espanha optou pela rota do Ocidente, vindo parar no continente que seria então chamado de Índias Ocidentais e posteriormente América.

Nesta navegação em busca de um caminho marítimo para as Índias, os navios a serviço de Portugal aproavam para o sul e deveriam contornar a África para chegarem as Índias, feito conseguido por Vasco da Gama em 1498, e daí surge a versão romântica lusitana, contada como verdade absoluta por muitos aqui no Brasil.
Nesta versão, o lado esquerdo do navio era o lado bom por dois motivos: primeiro porque era o lado com o qual se atracava já que a maioria esmagadora dos lemes ficava do lado direto das embarcações (somente com o advento das caravelas é que isso mudou, pois a mesma sofreu influências das embarcações gregas que possuíam um leme centralizado na popa), impossibilitando a atracação por este lado, e segundo porque era o lado seguro, o lado que ficava virado para onde estava o porto. Daí teria vindo a terminologia bombordo, o “bordo bom”, o “bordo seguro” e em Inglês, Portside, ou “o lado do porto”. Por analogia, o outro lado da embarcação, o lado direito, era o bordo onde só havia mar e estrelas e daí teria vindo o termo “estibordo” (em português lusitano), conhecido no Brasil como Boreste, e isso seria pelo fato de ser o “bordo das estrelas”, em Inglês, o Starboard.
Controvérsias à parte, também há a versão Nórdica /Anglo-Saxônica, que possui lastro histórico e evidências para ser a mais adequada.
Nesta versão, tomam-se como referência as embarcações Vikings que navegavam no Mar do Norte e que possuíam o leme à direita, justamente pelo fato de a maioria das pessoas serem destras. Nesta época os barcos conhecidos como Knaars, barcos de 16 metros de comprimento por aproximadamente 4,5 metros de boca e com capacidade de carga de mais de 120 toneladas, eram o meio de transporte desses grandes conquistadores naquela área havendo, inclusive, evidências de que os mesmos chegaram à América muito antes de Cristóvão Colombo.

A terminologia Estibordo (em inglês Starboard) é uma derivação da terminologia primitiva em Inglês, que era “steerboard” (steering = governar), ”o bordo onde ficava o leme” e que na língua escandinava original era Styrbord, terminologia esta utilizada até hoje nos países escandinavos.
O Inglês Técnico de Navegação sofreu com o tempo alguma influência nórdica por causa dos contatos entre os povos (tanto amigáveis como não amigáveis), principalmente durante a baixa Idade Média, época na qual a Inglaterra ainda não era um país com navegadores excepcionais, como eram os nórdicos que os invadiam constantemente. Apesar de em Portugal até hoje se utilizar a terminologia Estibordo, a terminologia Boreste surgiu no Brasil, como o advento do uso do rádio marítimo, já que quando as transmissões estavam ruins, facilmente se confundia bombordo com estibordo.
O lado oposto a boreste/starboard era “larbord” que derivava de “laden” que significava load, carregar; o bordo livre para carregar e atracar. Segundo o Dicionário Oxford o termo “bæcbord”, significa o lado ao qual o timoneiro (steerman) dava as costas (back), na época também chamado de “backboard”. Este termo foi utilizado em Inglês até o fim da Idade Média, depois sendo substituído por Larboard.
O problema era que ambas as palavras eram parecidas, e geravam muita confusão a bordo sendo mal interpretadas. No Século XVI surge o termo Portside, que foi oficializado formalmente pelo “Almirantado Britânico” após 1840, quando ambas Royal Navy e US Navy entraram em acordo quanto ao uso da mesma expressão, abandonando, desta forma, o termo Larboard.
Assim, o que temos hoje é o seguinte:
O Inglês arcaico e o Norse, idioma arcaico que deu origem aos idiomas escandinavos, eram bem mais próximos do que hoje em dia, próximos o bastante para sofrerem assimilações e serem entendidos mutuamente.
Esperamos que este texto seja útil para todos aqueles que, como nós, amam o mar e queiram saber mais sobre a história de nossa profissão e dos termos que utilizamos hoje.
Por Rodrigo Cintra e Erik Azevedo
Muito interessante, mas deixou de fora a explicação que eu recebi na Escola Naval, relacionada à navegação em si, o que é bastante plausível. starboard- lado da estrela tem relação com Boreste pois quando os navegadores se orientavam no mar à noite, se colocavam com boreste para o lado da Estrela Polar, que fica no polo norte…. na época dos descobrimentos, era fundamental manter o bordo de boreste voltado para a estrela Polar, e, para voltar para o continente, para o porto, mantê-la à bombordo, daí bombordo ser Port…
Trabalhei na área de montagem no Estaleiro Mauá de Niterói perante dois anos, eu aprendi muito nas construções e montagens dos blocos dos navios petroleiros da Transpetro, é uma obra muito linda você ver o navio começar do fundo duplo e terminar um gigante sendo lançado nas águas da baia de Guanabara,e mas emocionante ainda é ver o gigante navegar pelo mar a fora, sinto muita saudade desses bons tempos, essa matéria me fez relembrar muitas coisas boas do meu aprendizado, Muito bom Rodrigo, meus Parabéns!!